10 de jan. de 2012
4D
O amor aconteceu. Há vezes que penso que foi em alguma dessas tardes de sábado, onde nenhum dos dois poderia ter algo melhor para fazer do que parar a frente de qualquer cinema da cidade e ficar olhando os letreiros vermelhos e reluzentes. E outra vez, surpreendiam-se por não encontrar em cartaz mais um daqueles filmes clássicos e exageradamente românticos – mas que eles haviam de confessar que adoravam.
Sábados à tarde e poucas alternativas. Quem sabe, Gigantes de aço? Os três mosqueteiros? Não importa. De qualquer modo apenas músicas ouviriam. Ela de Sinatra, ele de Bublé. E assim continuavam pensando que nada aconteceria. Mal sabiam eles dos poderes do tal 4D. Na verdade, ninguém sabia. Mas poderiam sentir, como realmente deveriam se sentir. Tortuosos, asfixiados, consternados... E todos aqueles estímulos. Ah, os estímulos... E assim, beijar-se-iam e depois ririam e envergonhados sentir-se-iam.
- Então... O que te trazes aqui... – lhe pega o fone e rouba um pouco de música... Senhora Sinatra?
- Na verdade senhorita. Não sou do tipo que se prende a amantes. E é justamente por isso que estou aqui.
- Não deveria ser ao contrário? Cinema é o refúgio dos amantes...
- Não os 4D... Porque eles...
- Te proporcionam sensações sem que você precise da ajuda de alguém.
- Então você me compreende?
- Talvez...
- Eu já deveria saber... Para um homem que ouve Bublé.
- São muitos os homens que ouvem Bublé.
- Não dos que eu conheço.
- Talvez não conheça os caras certos.
- Nunca gostei dos certos. E você, definitivamente não é um.
- Por que eu ouço Bublé?
- Não. Porque até agora você não tirou os seus olhos dos meus.
- Não entendo a sua filosofia.
- Caras certos são apenas esses homens, que são iguais a todos que existem...
- E eu não sou igual a todos?
- Não. Você ouve Bublé, usa duas meias, vem ao cinema aos sábados e fala com meninas estranhas.
- Meninas estranhas?
- Você não acha?
- Só por que você ouve Sinatra, vem ao cinema 4D apenas pelos famosos 20 estímulos olfativos e físicos, que você sente sem sair do lugar; e tem uma definição totalmente contrária sobre caras “certos e errados”?
- Não.
- Então por que você seria uma “menina estranha”.
- É o que dizem por aí...
- E você acredita?
- Não. E também não acredito no amor, ou na sorte. Mas as pessoas continuam falando deles não é?
- Realmente... E então... É...
- Então nada. Apenas preciso ir.
- Agora?
- Deveria ter ido há muito tempo.
- Não gostou de ter me conhecido?
- Gostei muito na verdade. Mas isso não é do tipo de coisa que eu espero que aconteça quando eu venho afogar minhas mágoas assistindo filme em um cinema 4D...
- Vai embora ouvindo Sinatra?
- Ana Carolina...
- Eu só quero saber em qual rua minha vida vai encostar na tua...
- Nessa mesma, provavelmente.
- Sábado próximo?
- E os seguintes também.
- Antes que eu me esqueça... Brasileira?
- O que você esperava?
- Uma mexicana talvez.
- Só por que estamos no México?
- Meio óbvio...
- Para você...
E ela se foi. Caminhando como se nada tivesse acontecido. Ele tomou seu rumo. Caminharam pelo desconhecido e todos os sábados se encontravam. Estavam no México. “But I wanna go home”. E em 2012 estavam em casa. Brasil. Em São Paulo ou em Curitiba. Não importa. Desde que se encontrassem em um cinema 4D, ouvissem suas músicas, tivessem conversas estranhas e... E foi assim que finalmente o amor aconteceu...
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