Antes
de qualquer coisa acho que você deve-me algumas – muitas – desculpas. Na
verdade, não acho, tenho certeza. Deve-me desculpas pelas noites que passei em
claro tentando achar algum argumento que sustentasse o fato de que nós não
estávamos mais juntos. E deve-me desculpas também por todo esse sacrifício não
ter valido nada, já que de nada adiantou questionar tanto e nunca encontrar
nenhuma única briga, desentendimento, fato ou ocasião que concretizasse o fato
de que nós havíamos terminado. Deve-me desculpas por eu nem ao menos saber o porquê
havíamos terminado, já que eu nem sequer sabia o que nós tínhamos. Além disso,
deve-me desculpas por nunca ter me dito o que de fato era aquilo que nós costumávamos
ter. Porque para nós termos terminado, era porque havíamos começado algo. Mas,
começado o quê? Você nunca me disse. Peço novamente suas desculpas sobre isso. Não
se esqueça que deve-me desculpas pelos momentos em que descontou toda a sua
raiva em mim quando eu nada tinha feito para você; deve-me desculpas por quando
deixou-me falando sozinha, por quando virou-me a cara, por quando fugiu, por
quando fez-se de idiota e por tantos outros momentos em que a única coisa que
você sabia fazer era tratar-me mal. Também deve-me desculpas por quando ficou
bravo comigo por um motivo fútil e que não tinha sido culpa minha, já que não
havia sido eu quem havia atendido ao telefone. E isso me lembra de que me deve
desculpa por confundir a voz de outra pessoa com a minha. Não acho justo,
afinal, você dizia gostar tanto da minha voz, como poderia confundi-la? Mas,
principalmente, deve-me desculpas por procurar os meus olhos em outros olhos, a
minha boca em outras bocas, o meu perfume em outros perfumes, o meu gosto em
outros gostos e também por procurar meu coração em outros corações. Sem
esquecer que, deve-me desculpas por dar a ela os mesmos apelidos que dava a
mim, dedicar a ela as mesmas músicas que um dia me dedicou e por fazer com ela
tudo o que fez comigo. E agora eu peço-te desculpas por não ter conseguido ser
ela.
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