Difícil mesmo é chegar à sua casa, ver que nada mudou do lugar, mas que, agora há um espaço vazio no sofá da sala de estar. Então, de repente, você se vê obrigado a tirar alguns quadros das paredes e a esvaziar as gavetas do guarda roupa. Mas você não quer fazer isso. Não quer se livrar das lembranças e quer adiar o maior tempo possível para que isso aconteça. Você não troca os lençóis, liga todo dia na secretária eletrônica só para poder ouvir uma única voz, espirra certo perfume todas as manhãs e noites pela casa... Você ainda coloca copos, talheres e pratos a mais na mesa em todas as refeições. Também faz alguns pratos especiais e guarda alguns chocolates preferidos. Você ainda compra queijo todos os domingos e o come com pão, como de costume. Ao acordar diz “Bom dia” e ao se deitar sussurra “Boa noite e bons sonhos”. Comemora as datas especiais, compra presentes, faz bolo de aniversário e até canta parabéns. Coleciona as moedas de cinco centavos e usa duas meias, sempre. De repente você percebe que além de estar levando a sua vida como se esse outro alguém ainda existisse você ainda vive a vida dessa pessoa. Então bate a tristeza, a solidão, a saudade. Você se arrepende por ter dito algumas palavras e também por deixar de ter mencionado algumas delas. Arrepende-se por brigas sem motivos, e por se importar com futilidades. Você se deprime. Chora por um canto, chora por outro, e vai levando... Até que um dia você dá a volta por cima. Mas chega um momento que você simplesmente está fazendo tudo de novo... Os cafés da manhã, os almoços de domingo, a música no fim da tarde e os filmes nas noites de sábado. E vem toda aquela melancolia. Porém mais uma vez você dá a volta por cima, mas sabe que depois de um tempo você vai continuar com a antiga rotina. Com a sua rotina e com a rotina do alguém que se foi. Então você percebe que tudo isso é amor incondicional. Porque o amor é tudo isso. E se for possível é até um pouco mais do que somente amor.
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