18 de jun. de 2012

Viver sem amor.


Lá estava com uma foto na mão e com o coração apertado. Pensou... “E quando o que te faz feliz é também um veneno que tem o prazer de te torturar?” Passou as mãos pelos cabelos negros e encaracolados, enxugou uma lágrima e olhou ao redor. Ninguém a vista. Melhor assim. Não queria que ninguém soubesse de suas entranhas feridas pelo “tal do amor”. Antes eram apenas risos, mimos, carinhos e paixão; agora, caminhava sozinha quando voltava para casa, hoje, ele era apenas mais um estranho no ônibus, daqueles que você vê assim, subitamente, daqueles que você mira os olhos uma única vez e nunca mais os vê novamente.
Preferiu não pegar o trem. Preferiu não chegar cedo. Preferiu mudar de rumo, andar sem rumo. Quem sabe reviver momentos? Não. Reviver momentos não lhe fazia bem. Sempre que o fazia, saia à procura dos olhos de jabuticaba e, quando não os encontrava – nunca os encontrava – se tornava inerente às rachaduras, retornava a quebrar o coração, das feridas saiam os gritos promíscuos e seu cheiro de mofino se espalhava procurando o assento vazio do ônibus que um dia tinha sido ocupado por um belo rapaz de cabelos bagunçados e com um sorriso torto. Encontrava agora, no silêncio, todas as soluções para seu problema. O truque era esquecer. No fundo, sempre soubera o que de fato devia fazer, o que lhe faltava mesmo era coragem. Então, deixou a coragem possuir suas veias e em um ato impensado retirou os curativos que estavam no coração e tirou de lá de dentro todo o amor que sentia. Não sentia mais nada. Pelo menos por hora. Vagou sem rumo. Voltou pra casa. Sabia que no final tudo iria dar certo, pois como dizem “Primeiro a chuva e depois o arco-iris”. Podia não sentir, mas ainda sim sabia muito bem o que queria para um futuro próximo. Queria ser mais do que um conjunto vazio. Quem sabe poderia ser aquela estimada solução do sistema linear que o professor ensinara quando estava no nono ano, e que tivesse seu par ordenado, por favor.  Afinal, não sabia viver sem ter companhia, tampouco sem amor.

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